Percepções acerca do ambiente escolar, acadêmico e dos estudos (parte I)

“No segundo grau eu não precisava estudar tanto como agora…”

 Resumo deste artigo: A transição do segundo grau para a Universidade é, na maioria dos casos, uma experiência traumática para o aluno. Trata-se de um novo ambiente, estranho, completamente diferente daquela escola que o aluno deixou para trás. A começar pela rotina do ambiente universitário, passando pela liberdade do aluno em freqüentar ou não as aulas, e chegando aos elevados graus de exigência, de cobrança de conhecimentos adquiridos, através de provas nada fáceis – tudo isso se mostra para o aluno como um elemento altamente perturbador. Não raramente, os novos estudantes universitários apresentam um elevado nível de apreensão ao adentrar neste mundo que se descortina diante deles. Diante disso, o que fazer? Como proceder?

 

Vamos comentar, nesta série de apresentações que ora se inicia, algumas percepções que permeiam o ambiente estudantil. A primeira delas, tema deste artigo, é: “No segundo grau eu não precisava estudar tanto como agora…”.

O que será que muda a partir do momento em que o estudante efetua a transição entre o segundo grau e um curso universitário? Como poderíamos compreender e superar os grandes choques que um aluno sente a partir do momento em que torna-se um aluno de curso superior? Além de ser forçado a se adaptar rapidamente a um ambiente inteiramente novo, com colegas completamente diferentes, apresentando significativas diferenças de faixa etária, de comportamento, de rotina de vida, condições econômicas, tipo de vida social – muitos deles já inseridos no mercado de trabalho, alguns mais maduros, outros ainda infantilizados, dentre tantas outras distinções – além de se sentir perdido no ambiente da Instituição nas primeiras semanas ou mais – pois a rotina de um curso universitário é completamente diferente do pequeno mundo que envolvia este aluno no segundo grau, aonde as atividades eram estanques, classes fixas, mesmos professores, em geral com a aplicação de metodologias semelhantes, excetuando-se as peculiaridades de cada professor, aonde os deveres dos alunos eram explicitamente definidos, as avaliações e trabalhos eram realizados dentro de certa previsibilidade, com base estritamente na matéria lecionada, aonde eventuais problemas tendiam a ser resolvidos localmente, sem que se expandissem, ou seja, em condições tais que o estudante se sentia restrito a uma redoma que poderia ser comparada à vida de uma pequena cidade provinciana (ressaltando-se o fato de que, evidentemente, nem todos os colégios poderiam ser enquadrados perfeitamente nesta descrição…) – além de tudo isto, o aluno ainda deveria, pasmem… estudar!

Metaforicamente e por vezes literalmente, ele mal acabou de se afastar de sua cidadezinha do interior, em que todos se conheciam e é jogado na grande metrópole, um anônimo no meio de tantos outros.

Neste novo mundo em que o recém-universitário se encontra, ele deve correr atrás de seus horários de aula, identificar suas salas – normalmente diferentes dependendo da disciplina, tentar se adaptar à linguagem de seus novos professores, completamente distinta daquilo com que ele estava acostumado até então. Isto sem levar em conta a desorganização e a burocracia dos departamentos administrativos da Universidade, muitas vezes presentes, em menor ou maior grau, o que auxilia a perturbar ainda mais a já difícil adaptação do aluno.

O simples ato de permanecer dentro da sala de aula nos primeiros dias pode ser motivo de angústia. Tudo se mostra diferente. Não apenas os colegas de classe, mas o ambiente em si. Uma nova linguagem que não necessariamente é adequadamente compreendida, agendamento de trabalhos, de provas, diferentes disciplinas seguindo-se uma à outra ao longo do dia como alguém percorrendo os canais da TV em busca de um programa interessante. Os professores não se acertam entre si, o que leva a atividades sendo marcadas por diferentes mestres em datas coincidentes – ou quase… No colégio não era assim! O que eu faço?

A primeira ação a ser tomada é… se acalmar. Conscientizar-se de que agora estamos em um novo mundo, com uma nova linguagem, novos procedimentos, nova mentalidade – uma nova cultura!

O segundo aspecto consiste em atuar como um espectador e observar. Observar o comportamento dos professores, dos funcionários, dos colegas… e tentar entender suas linguagens. Anotar tudo o que lhe parecer importante: horários de aula, números de salas, nomes – mesmo que estejam em constante mutação. Estabelecer um mapa simplificado de locais e trajetos, incluindo pontos de referência, registrar os horários de atendimento da Secretaria, gerar uma lista de dúvidas, quaisquer que sejam e buscar aos poucos pessoas que possam esclarece-las. Com certeza, você constatará que suas dúvidas, problemas e sentimentos são muito parecidos com os de muitos colegas que estão ao seu lado, embora não necessariamente eles (ou elas) o admitam. Procure localizar outros alunos com os quais você sente que possa se comunicar mais facilmente e troque idéias com eles. Com mais um colega ao lado, também em busca de auxílio, tudo fica mais fácil. Você não se sentirá sozinho. Não raramente, este primeiro colega acaba se tornando um amigo fiel ao longo de todo o curso e mesmo além. Aos poucos, os nós vão se desatando e, ao menos em se tratando do processo de adaptação ao novo ambiente, você acabará por se acomodar e encara-lo de modo mais natural.

Nesta etapa você estará pronto para se preocupar efetivamente com seus estudos… Bem, quando chegamos à questão dos estudos é que o tempo fecha de vez. Não bastam os entraves com os quais os alunos tentam se desvencilhar, criados pela necessidade de adaptação às novas condições para, do nada, ser soterrado por uma enxurrada de apostilas, livros recomendados, notas de aula e trabalhos propostos referentes a um elenco de disciplinas, cada qual concorrendo para ser tida como a mais relevante para o estudante, ao menos sob o ponto de vista do professor, que exibe na classe aquela disciplina sob sua responsabilidade como sendo um excelente produto a ser adquirido. Não podemos tirar a razão dos professores. Afinal, eles apenas tentam motivar o aluno para que estes venham a apreciar suas disciplinas!

Nesta miríade de solicitações vindas de todos os cantos, como fica o aluno que até então convivia praticamente apenas com as clássicas aulas de Matemática, Português, Física, Química e Biologia? Para se adaptar às novas exigências do ambiente universitário, faz-se mister, antes de tudo, se organizar. Agora, mais do que nunca, o aluno deverá estudar. Mas não se trata do estudo informal dos velhos tempos, quando de cinco em cinco minutos (ou menos…) ele interrompia a leitura de um texto ou a realização de um exercício de matemática para consultar as novidades do Facebook, ou checar o WhatsApp, a geladeira, a TV, ou simplesmente andar de um lado a outro da casa. Não se trata do pseudo-estudo reclinado na cama, escutando suas músicas preferidas através de fones de ouvido, quando depois de alguns minutos os olhos passam a ler a mesma  frase várias vezes antes de finalmente serem cerrados (só um pouquinho, pois logo mais acordamos sobressaltados) e, convenhamos, tudo isso correspondendo a um rendimento extremamente baixo.

Neste novo mundo, não podemos nos conceder ao luxo de apresentar um baixo aproveitamento nos estudos. O tempo agora se apresenta como sendo um recurso escasso, e temos de utilizá-lo da forma mais eficiente possível. As matérias se avolumam, e se não mostrarmos um esquema adequado para bem lidar com elas com eficiência e com elevado rendimento, seremos simplesmente soterrados pela intensa e contínua enxurrada de tarefas que nos são atribuídas.

Para complicar o contexto, diferentemente do ambiente do colégio, agora o aluno se encontra sozinho. Raramente terá a oportunidade de conversar longamente com seus professores a respeito de uma dúvida. Quando consegue alguns minutos de dedicação por parte deles, muito provavelmente a conversa se desenrola com o professor se deslocando de uma sala a outra (e o aluno correndo atrás…). O interessado deverá expor o seu problema de modo perfeitamente delineado ao professor e não simplesmente dizer: ” Ei! – Não consigo resolver isso, me ajude!  “. E se o professor lhe informa algo, cabe ao aluno coletar as poucas palavras por ele expressas, indicativas de um possível encaminhamento para a solução do problema e não perde-las. Some-se a tudo o fato do aluno ter tido a sorte de não ser desagradavelmente interrompido por alguém enquanto tenta manter estes exclusivos momentos particulares com o seu professor.

Com certeza, há exceções e este cenário, porém o que foi comentado não se trata de uma situação rara. Cabe no entanto sempre uma lembrança e uma comparação: o “mundinho” do colégio não era assim…

Ao ser inserido no ambiente universitário, o aluno se vê obrigado a buscar as informações por si só, sejam elas referentes aos seus horários, salas, professores, seja quanto à matéria ministrada (bibliografia, conteúdo, exercícios, trabalhos).

E, a propósito, eis aqui outra consideração super-importante: nem tudo que é necessário para assimilar o conteúdo de uma dada disciplina é efetivamente exposto em sala de aula. Há muitos itens que ficam por conta do próprio estudante desenvolver e explorar, individualmente. Em resumo, é muita areia para o caminhãozinho do aluno…

Evidentemente, estamos nos referindo a Faculdades e Uníversidades públicas e privadas tradicionais e rigorosas. E também no que tange aos cursos clássicos e reconhecidos como idôneos. Não incluímos neste modelo uma enxurrada de instituições que atuam de modo não convencional, onde, segundo o dito popular, “os alunos fingem que estudam e os professores fingem que ensinam”. Não é este o nosso foco.

Voltando ao nosso ponto principal, o que este aluno necessita de imediato é se organizar. Mais especificamente, se organizar dentro de seu novo estilo de vida, se organizar no ambiente universitário, se organizar com relação ao elenco de suas tarefas, deveres, sessões de estudo e, aos poucos, irá se acostumando com suas novas rotinas.

Não é nada fácil, evidentemente. Tratam-se de ações que demandam grandes esforços. No entanto, o aluno pode ser ajudado. Desde a montagem de um esquema que estruture a sua vida acadêmica, acomodando-a com suas demais atividades, passando por uma análise de como e quando o aluno poderá estudar, quais as melhores técnicas de estudo que se adequam às suas características pessoais, e incluindo o acompanhamento de seu desempenho à medida que o aluno avança em seu curso, um serviço de mentoria pode ser a solução para aliviar o estudante nesta desgastante fase em que se encontra.

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