“A praga do homem é se gabar de seu conhecimento.“
Michel de Montaigne – filósofo renascentista e escritor erudito francês (1533-1592)
Existe um fenômeno conhecido na Psicologia, denominado de “Efeito Dunning-Kruger”. Precisamos tomar muito cuidado com ele, e neste artigo procuraremos mostrar os motivos.
Em poucas palavras, pessoas que não tiveram ainda a possibilidade de desenvolver suas habilidades intelectuais, quando colocadas diante de situações em que são solicitadas a opinar ou mesmo a decidir a respeito de atitudes a serem tomadas, tendem a superestimar exageradamente a sua bagagem intelectual ou o seu conhecimento a respeito do assunto tratado, acreditando realmente que ela possui todos os requisitos necessários para estar sendo colocada naquela posição.
Como este fenômeno pode ser explicado? O importante, antes de tudo, é destacar que não se trata de uma enganação, onde o indivíduo forja conscientemente dispor de um conhecimento que não possuí. Trata-se de uma sensação que lhe parece real, de modo que ela acredita dispor de recursos intelectuais que, na realidade, são bem inferiores àqueles que lhe são pertinentes. Quando a pessoa recebe uma tarefa e ela não apresenta as condições necessárias para a sua realização, de algum modo o seu cérebro cria uma fantasia e ela, de modo ilusório, acredita piamente possuir esta capacidade.
Um outro fato curioso é que há indivíduos que são portadores de uma característica inversa, qual seja, acreditam que dispõem de menos capacidade intelectual, de habilidades ou de outros recursos do que aqueles que realmente possuem. Não se trata de falsa modéstia. Tratam-se de indivíduos de altíssima capacidade mas que, de alguma forma, não associam esta bagagem de conhecimento e/ou experiência com a sua pessoa.
Para acrescentar mais fatos curiosos a este efeito, é importante comentar que há uma regra básica no “Efeito Dunning-Kruger”. Atenção para ela: “Não sabemos se somos ou não portadores deste efeito“.
Antes de continuarmos, convém acrescentar algumas considerações a respeito da “humildade intelectual”, um tópico que poderá ser aprofundado em um próximo artigo. No momento, vamos tratar apenas dos aspectos que nos interessam.
A humildade intelectual pode ser definida como sendo o reconhecimento de que aquilo em que você acredita, pode, de fato, estar errado. É importante ressaltar que não se trata de humildade no sentido mais amplo ou de timidez, falta de confiança e nem mesmo estar relacionado a problemas de auto estima. A humildade intelectual é uma técnica de raciocínio. Trata-se de levantar a possibilidade de estarmos errados e estarmos abertos a aprender ou a reaprender com base na experiência de outros indivíduos, que eventualmente poderiam ter trilhado caminhos diferentes dos nossos. Trata-se de estar sempre atento e interessado no que se refere aos nossos “pontos cegos”.
A questão do ponto cego tem tudo a ver com o método científico proposto há tempos por René Descartes. Tomemos como exemplo uma pesquisa científica. Um cientista pode perfeitamente trabalhar contra a sua hipótese, pressupondo que esteja trilhando um caminho errado e procurando eliminar quaisquer outras explicações possíveis (que não as suas próprias) para um dado fenômeno antes de chegar a uma conclusão. Ele se pergunta: o que deixei de considerar? O que não estou vendo? Estes são os pontos cegos.
Quem age deste modo, seguindo procedimentos semelhantes aos adotados pelo cientista acima descrito, adquire o hábito de pensar a respeito de seus limites (o que pode ser doloroso…). Com isto, monitoramos nosso grau de confiança em nós mesmos.
Voltando ao nosso tema central: o “Efeito Dunning-Kruger”. A humildade intelectual, apesar de ser uma virtude louvável, é bastante rara. Isto porque o cérebro tende a esconder de nós mesmos os pontos cegos. Tendemos muitas vezes a ser mais confiantes em se tratando de uma habilidade, um conhecimento ou o domínio de uma área do que deveríamos. Mas o grande problema não é este, e sim o fato de não estarmos conscientes de que estamos superdimensionando nossas capacidades, desprezando os limites pessoais. Em outros termos, tendemos a não perceber a nossa ignorância.
Há um princípio curioso, denominado de “Princípio do Realismo Ingênuo”. Uma pessoa pode acreditar que o modo como ela percebe a ela mesma, o ambiente ao seu redor ou o mundo de uma forma geral seja conhecido e evidente. Todavia, isto não significa que suas convicções sejam verdadeiras. Sempre que nos esforçamos numa tarefa e concluímos algo, automaticamente tendemos a pensar que nossa conclusão está correta. Mas não necessariamente está, pois muitas vezes nosso cérebro nos engana, como já foi comentado, e este engano acontece por conta do “Princípio do Realismo Ingênuo”. Ou seja, quando um indivíduo não entende algo, pode acontecer dele não perceber que não entendeu e cria, em consequência, um modelo errôneo a respeito do que lhe foi informado.
Outro ponto relevante é que todos nós fomos, somos e seremos vítimas destes enganos ao longo da vida, em maior ou menor grau. Não estar consciente do ponto aonde começa nosa ignorância é absolutamnte normal. A questão é que não percebemos isto em nós, porém notamos perfeitamente nos outros.
Um fenômeno bastante comum, presente em muitos recém formados quando entram no mercado de trabalho é que não são, a princípio, vítimas do “Efeito Duning-Kruger”,. No entanto, passam a sê-lo em pouco tempo. Isto acontece quando, no afã de demonstrar seus potenciais, passam a acreditar que são capazes de executar uma dada tarefa quando, na realidade, ainda não dispõem da capacidade e/ou condições necessárias para tanto.
Interessante citar que nós, enquanto docentes na área da Engenharia, por vezes nos deparamos com situações inusitadas e que nos remetem diretamente ao “Efeito Duning-Kruger”. Podem ocorrer casos em que a vida profissional de um jovem ingressante numa Faculdade pode vir a ser extremamente prejudicada devido a isto. Atente-se para o exemplo a seguir. Chegou ao nosso conhecimento que um aluno calouro de Engenharia assistia às aulas iniciais de Cálculo de seu curso. Nas primeiras semanas, havia comentado com os colegas que se julgava tão conhecedor dos conceitos que estavam sendo apresentados, que era capaz de concluir os fatos antes do professor terminar as explanações. Considerava que tudo era banal, evidente e que nem precisava realizar as tarefas propostas por estar plenamente consciente de seu domínio sobre a matéria ministrada. Desnecessário nos estendermos mais. Foi reprovado, o mesmo acontecendo em outras disciplinas em função da exagerada confiança em sua capacidade. O aluno era inteligente, comunicativo, pontual. Dispunha de todas as qualidades desejadas em um estudante universitário. Mas o “Efeito Duning-Kruger” o dominou de tal modo que, dadas as sucessivas reprovações e talvez por não ter sido compreendido pelo corpo docente e/ou familiares, acabou desistindo do Curso Superior que cursava. Ao que consta, não se teve mais notícias dele.
O que pode ser feito com o objetivo de contornar o “Efeito Dunning-Kruger”? Seguem algumas dicas.
- Seja curioso e faça perguntas quando não souber muito sobre algo.
- Tente ser humilde – você realmente precisa responder àquela pergunta que um amigo seu acabou de fazer, ou seria mais sensato deixar alguém com maior experiência respondê-la?
- Seja honesto consigo mesmo, assuma e procure identificar os limites do seu conhecimento.
- Não tenha medo de parecer incompetente se não se sentir a vontade quando se envolver com um determinado tópico – ninguém sabe tudo e certamente há muitos temas sobre os quais você sabe muito, de fato. Atenha-se a eles!
- Pergunte a si mesmo se o que você está prestes a dizer ou escrever é algo que você realmente sabe e tem certeza disso. Ou você está simplesmente adivinhando e fazendo suposições? Certifique-se de comunicar claramente o que você estiver tentando dizer!
- Como acontece com todos os preconceitos, lembre-se – é sempre fácil identificá-los nos outros, mais do que em você mesmo. Então, faça um esforço extra e tente observar como você age, fala ou escreve.
O “Efeito Dunning-Kruger” é apenas um dentre vários elementos que podem afetar o dia-a-dia dos estudantes. Conhecendo mais a respeito dele, suas consequências ficam mais fáceis de se evitar.
A propósito, nós. enquanto mentores, podemos lhe ajudar a “aprender a estudar”.
Nestes nossos artigos temos tratado de situações genéricas, porém a individualidade não pode ser desconsiderada. Através de nossas sessões de mentoria, desenvolvemos processos com o objetivo de compreender as necessidades e particularidades do(a) estudante para, a partir daí, dar-lhe o apoio e direcionamentos adequados, paralelamente ao acompanhamento do desempenho de nosso mentorado(a).
Não se tratam de aulas particulares de nenhuma disciplina em especial, e sim de um treinamento e de aconselhamentos pessoais, procurando aumentar o desempenho escolar ou acadêmico do aluno ou da aluna (esteja ele ou ela cursando o Ensino Médio ou Superior), aumentando a eficácia nos estudos, o melhor aproveitamento do tempo disponível e, como consequência, a obtenção de maiores notas nas provas e exames.
Resumindo, nosso objetivo básico é o de direcionar os estudantes a “aprender a estudar”.
Nosso processo de mentoria atua com êxito inclusive no caso do ensino à distância, por meio de computadores e smartphones – situações estas em que os principais problemas estão relacionados às dificuldades de acompanhamento e concentração por parte dos estudantes.
Desenvolveremos juntos as ferramentas que melhor se adequem às características pessoais de cada estudante. Contate-nos e conversaremos a respeito disso.
Nosso e-mail é:
aprendendoaestudar@aol.com
Caso seja de sua preferência, segue nosso telefone:
11-99317-5812 (WhatsApp)
Não perca seu tempo! Venha “aprender a estudar” conosco e comece agora mesmo. Estamos te esperando. Até logo mais!
Prof. Arnaldo – mentor em educação, voltado a técnicas de estudo e aprendizagem.
Créditos:
Primeira ilustração: https://br.freepik.com/search#uuid=87eceb38-56e6-4426-aff1-1215c3b540ba Ícone de Karacis
Segunda ilustração: By User:Sciencia58 – Based on File:Dunning-Kruger-Effect.png, CC0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=86122176
Terceira ilustração: By © Nevit Dilmen, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=36423233